A falácia do Kali Yuga estendido é uma grande confusão reinante em torno da ideia do Kali Yuga, nascida da noção dos grandes ciclos simbólicos fantasiosos dos Puranas, e agravada por erros de interpretação comuns e vulgares.
O conceito de Kali Yuga que o Oriente sustenta hoje não passa de uma fusão indevida de ideias de Kali Yuga provenientes de diferentes fontes e a maior parte delas hoje desconhecidas. A Cosmologia Antiga da Índia é uma caixa preta repleta de véus, e por vezes também apresenta algum nó cego. O cenário não seria animador, não fossem os esforços já realizados para solucionar todos estes problemas.
Eis que a única referência de Kali Yuga que os devotos hindus tinham a certa altura era aquela dos grandes Yugas simbólicos de milhões de anos, por desconhecerem a hierarquia natural das Rodas do Tempo. Com isto se confundiram as coisas passando a misturar os diferentes Kali Yugas citados por variadas escolas, abordagens e calendários, numa fórmula meramente especulativa e sem qualquer lastro objetivo em termos de cronologia. Com efeito a própria adoção da morte de Krishna como abertura deste ciclo não passa de uma simples ilação para o estabelecimento deste Kali Yuga maior no imaginário vaishnava.
O tema é complexo porque envolve ciclos científicos perdidos e ciclo simbólicos exaltados. Pois muito embora os ciclos de cinco mil anos sejam quase desconhecidos do Oriente atual, a sua sombra paira sob as tradições, mitos e profecias do Hinduísmo de uma forma singela mas eloquente, como a luz das estrelas ponteando a escuridão da Noite e fornecendo referências para os navegantes.
Elas dão base para a seleção dos dez avatares principais (dentre os quais Krishna e Kalki tem assinalado devidamente os ciclos em questão) dentro do grupo maior de 22, tal como no Budismo sustentam a mandala dos Dhyana Budas. Nas Estâncias de Dzyan (que são um possível tantra Kalachakra), o tema se expressa na forma das cinco raças analisadas na Doutrina Secreta de Helena P. Blavatsky. Tal como muito seguramente também estavam representados nesta sequência de cinco suásticas abaixo oriunda da antiga cultura de Harappa, onde sugere a fórmula 5x5 mil anos do Grande Ano de Platão.
Tal situação nasceu de uma grande confusão existente entre conceitos paralelos e conhecimentos perdidos sobre as diferentes rodas-do-tempo (ou kalachakras), e aqui temos o passo-a-passo para solucioná-la. As confusões são como o velho jogo do “telefone-sem-fio” onde no final da linha a mensagem inicial acaba completamente modificada. Uma transmissão de informação é geralmente influenciada pela bagagem de informação (ou falta dela) de quem a recebe.
É natural que alguns sintam-se perturbados ao verem questionados dogmas tão difundidos, contudo quando se trata de profecias e calendários infelizmente o erro é muito comum e muitas são as razões, sem excluir a própria importância do sigilo ou da discrição. Naturalmente nem tudo acontece de forma absolutamente inocente. Existe nas seitas e religiões uma intenção de perpetuar as coisas como estão, sobretudo desde o ângulo espiritual, a ponto de criarem até mesmo calendários e cronologias totalmente fantasiosas para as coisas.(1)
Deste modo, temas abstratos ou misteriosos, relacionados a segredos zelosamente guardados, tendem naturalmente a sofrer deformações especiais quando uma cadeia legítima de transmissão é quebrada. Acompanhe então no Diagrama as questões aqui anunciadas. E depois desse pequeno exercício de cosmologia aplicado, muitas portas novas poderão se abrir.
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1. O Manvantara (ou “Dia de Brahma”) de 4.320.000 anos é apenas um ciclo velado que “não existiria” de fato pois dividido pela Chave esotérica de 360 resulta no “famoso” ciclo de 12 mil anos -e que junto ao Pralaya (“Noite de Brahma”) dá o Grande Ano de Platão completo. É o círculo maior do Diagrama com seus “grandes Yugas” (“Idades do Mundo”).
2. Havia na Índia Medieval mais de um ciclo que empregava a linguagem dos Yugas. O ciclo menor era similar ao atual “Drama do Mundo” com 5 mil anos da Escola Brahma Kumaris. Corresponde também ao verdadeiro conceito oriental de “raça-raiz” dos teósofos. São os círculos menores internos do Diagrama, também com seus “pequenos Yugas”.
3. A morte de Krishna que se diz anunciar “o começo do (grande) Kali Yuga atual”, na verdade ocorreu no final no pequeno Kali Yuga Atlante, pois avatares sempre vem nesta transição de ciclo completos -ver indicação com flecha no canto superior direito do Diagrama.
4. Atualmente estamos concluindo um novo Kali Yuga racial, o da Raça Arya. Decorre disto que fato análogo ao de Krishna também é anunciado para suceder agora com um avatar de categoria similar que é Kalki -ver indicação com flecha no canto inferior direito do Diagrama.
5. Estes dois “pequenos” Kali Yugas foram indevidamente reunidos no imaginário popular sob a suposição de se tratar do “Grande Kali Yuga” (daquele fantasioso Manvantara velado de 4.320.000 anos), ocupando a todo este tempo, quando na verdade muitos Yugas tem se passado então, e tanto na Grande Roda como nas Pequenas Rodas, como se percebe no Diagrama.
6. O verdadeiro Kali Yuga do Manvantara maior ainda não começou, e somente virá em meados da Era de Aquário -ver também ao pé da Grande Roda do Diagrama, através da faixa intermediária das Eras astrológicas.
7. Aliás o verdadeiro momento das transições completas recebe o nome especial de “Idade do Diamante” (Vajra Yuga), fato geralmente ignorado na divulgação dos ciclos do mundo, mas também praticado em certa medida pelos próprios Brahma Kumaris citados.
Conclusões
Assim, este suposto Kali Yuga começado há cinco mil anos não existe sendo apenas um grande mal-entendido dos ciclos planetários. Provavelmente o ciclo simbólico do Manvantara nunca tivera algum uso objetivo fora desta aplicação confusa e equivocada hoje conhecida. O Manvantara extenso nunca teria passado de uma abstração mística-religiosa antes da vinculação do seu Kali Yuga a Krishna, cujo Kali Yuga na verdade referia-se a outro que não o do Manvantara propriamente dito.
A grande questão é que simplesmente ninguém expõe o assunto de uma forma sistemática! Desde aqueles primeiros que começaram a difundir esta crença (e grifamos aqui a palavra “crença”) que são os comentaristas ligados às literaturas vaishnavas naturalmente, o assunto é meramente aceito como um dogma ou pressuposto e jamais sendo realmente analisado, como se fora uma espécie de boato emanado por fontes seguras, quando na verdade todo o problema reside na sua simples e prematura interpretação leiga criando erros em cima de ideias já por si só míticas ou simbólicas -uma enorme confusão portanto.
Discernir hoje tudo isto pode ser muito importante, pois aquele que conseguiu compreender estas questões básicas de cosmologia, está preparado para compreender também os verdadeiros mistérios velados pelo profundo simbolismo das Estâncias de Dzyan, tal como a realidade dos ciclos raciais e planetários “velados” pelas doutrinas teosóficas. Incluindo a chegada dos grandes Kumaras no final da ronda (Pralaya) anterior, como indicado na flecha no canto superior esquerdo do Diagrama, e suas importantes analogias com o momento atual de transição planetária.
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Se você conseguiu compreender estas questões básicas de cosmologia, está preparado para compreender também os verdadeiros mistérios velados pelo profundo simbolismo das Estâncias de Dzyan, tal como a realidade dos ciclos raciais e planetários “velados” pelas doutrinas teosóficas. Incluindo a chegada dos grandes Kumaras no final da ronda (Pralaya) anterior, como indicado na flecha no canto superior esquerdo do Diagrama, e suas importantes analogias com o momento atual de transição planetária.
Notas:
1. Assim, há quem imagine poder parar o tempo meramente inventando cronologias irreais que não condizem com os fatos, destinadas apenas a preservar o sentimento subjetivo de uma infância sagrada. É preciso porém despertar para a realidade depois de certo tempo, senão a mística pode virar escapismo e alienação, e avançar então para os Yogas maiores que também empoderam a pessoa dentro da própria realidade, como é o caso do Agni Yoga.
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Para saber mais
O registro do Kali Yuga: erros e acertos
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Sobre o Autor
Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV.
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